segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO DA DESIGUALDADE

O espaço geográfico é uma produção humana, que o homem o produz e o transforma para atender as suas necessidades. Mas ele não é produzido com o intuito de satisfazer as necessidades de todos os homens.
No inicio, as necessidades humanas significavam se proteger do frio, produzir o próprio alimento, caçar animais com maior eficiência, plantar, colher, etc. Era a passagem da conservação para a produção da existência humana. Posteriormente, a ocupação de territórios ocupados por outras sociedades, que guardavam riquezas, também se tornou uma necessidade, começava a disputa pelo domínio territorial.
Na Grécia Antiga, os cidadãos Eupátridas de Atenas, sentiam a necessidade de controlar o espaço da Acrópole, o centro da cidade. Era o espaço dos templos dos deuses, mas também dos negócios, restrito aos cidadãos atenienses e que não poderia ser transgredido por Thetas (que também eram cidadãos, mas de 2ª categoria) ou Metecos, que eram empurrados para a periferia. A origem dessa segregação espacial, que produz o espaço da exclusão em Atenas, está no próprio processo de construção da cidade-estado, no qual ocorreu a desagregação dos Genos (comunidades gentílicas) e a apropriação das terras mais férteis pelos parentes mais próximos do Pater - os Eupátridas.
Desde o inicio da produção do espaço pelos homens percebe-se que já existiam aqueles que ditavam o ritmo e a forma dessa construção, são os arquitetos do poder que coordenam a obra espacial. Voltando ao caso de Atenas, observa-se que tanto a Acrópole quanto a periferia são produções da elite ateniense, porque habitar os espaços periféricos da cidade-estado não foi uma escolha dos Thetas e Metecos, nem os periécos da Cidade-estado de Esparta escolheram ficar na periferia enquanto os cidadãos espartanos moravam no centro, era sim uma condição imposta por aqueles que controlavam e manipulavam o centro – os cidadãos. Cidadãos esses que dominavam e produziam o espaço da economia, da política e principalmente, da religião.
Esta construção do espaço geográfico na antiguidade guarda muitas semelhanças com a sociedade industrial contemporânea.
Com a Primeira Revolução Industrial, houve a imposição de uma nova dinâmica espacial na Europa e posteriormente no resto do mundo, através do processo de periferização do capitalismo. Essa dinâmica capitalista impunha a construção do espaço da indústria, ditado pelo ritmo de produção e reprodução do capital.
A sociedade industrial aprofundou exacerbadamente as desigualdades espaciais, desenvolvendo acima de tudo, um espaço da contradição
Quando uma sociedade muda sua forma de pensar e agir, essas mudanças refletem diretamente no espaço geográfico, sendo, pois, as estruturas espaciais resultado das relações estabelecidas em sociedade. Dessa forma, as relações sociais instituídas no contexto da sociedade industrial do século XIX, buscavam a consolidação dos interesses burgueses, que se apresentavam de forma contraria aos anseios da parcela da população, desprovida dos meios de produção de riquezas.
Foi assim que o capital provocou um imenso êxodo rural no século XVIII e XIX, com o objetivo de gerar mão-de-obra excedente para o setor industrial. Sabe-se que essa política, contribuiu de forma decisiva para um espaço urbano desigual, pois mesmo a urbanização dos paises desenvolvidos tendo ocorrido de forma mais estruturada que nos “subdesenvolvidos”, não evitou o surgimento de áreas extremamente pobres. O centro das cidades, abrigavam as fábricas e a elite burguesa, restando aos trabalhadores, empregados ou não, os espaços mais transgredidos pela miséria. Assim como em Atenas, a classe político-econômico dominante ditavam o ritmo da produção do espaço industrial, onde as relações econômicas desiguais intensificou ainda mais o espaço da riqueza e da pobreza.
O espaço geográfico mundial atual é uma realidade explicita dessas desigualdades, marcado por pouquíssimos centros hegemônicos de poder que dominam o mundo. O capital internacionalizado criou um cenário politico-econômico de favorecimento das elites, e a cada dia alargam-se as diferenças entre ricos e pobres. No mundo inteiro, a produção da riqueza cresce paralelamente à produção da miséria. Esta realidade é denunciada pela forma de organização do espaço, onde condomínios e edifícios luxuosos em lugares privilegiados, se tornam verdadeiras amenidades e contrastam com a segregação das favelas e das casas de papelão e bancos de praças que abrigam moradores de rua. No campo, empresas agrícolas, que oferecem um modo de vida urbano, contrasta com a realidade da expropriação fundiária e miséria de quem busca sobreviver no meio rural.
O Brasil é um exemplo desse espaço transgredido pela “necessidade” de produção de riqueza que desconhece qualquer compromisso com o outro. As cidades, e não só as grandes, são marcadas pelo contraste centro-periferia,onde a especulação imobiliária priva a camada pobre da sociedade do acesso aos centros urbanos e condomínios residenciais em áreas nobres. Esse contingente da população produz outra realidade espacial urbana – a favela – símbolo da subcondição humana e da ausência da presença do Estado na vida desses que cinicamente chamam de cidadãos brasileiros. Ausência esta, que é preenchida pelo tráfico de drogas, e que para o Estado, significa perda de poder sobre o território.